"No dia 10 de janeiro de 1856 em uma fazenda no município de Pereiro, neste Estado, nasceu Quariguazil Jefferson Barreto.
Foram seus pais o Professor Miguel Antonio de Melo Barreto e Mariana Augusta de Vasconcelos Barreto, ambos cearenses nascidos na zona jaguaribana.
Quando
contava dois anos de idade seus pais transferiram residência para Crateús,
onde, depois de dezesste anos, veio a falecer meu avo, com quarenta e quatro
anos de idade. Ficaram na orfandade dez filhos, contando o mais velho vinte anos
e o mais moco tres. Minha avó ficou sem recursos suficientes para manter-se com
os filhos, pelo que, Quariguazil, a exemplo do que já fizera o irmao mais velho
antes da morte de seu pai transportou-se para Sobral, centro mais adiantado, a
fim de ganhar o necessário para viver e auxiliar sua mãe na manutenção dos
irmãos menores.
Quariguazil não pode, à falta de recursos, receber instrução superior, mas, a que lhe ministrou seu progenitor que cursará o Seminario de Olinda durante oito anos foi suficiente para começar a vida prática. Assim, logo que chegou a Sobral, ingressou no comércio no qual militou vários anos.
Quariguazil não pode, à falta de recursos, receber instrução superior, mas, a que lhe ministrou seu progenitor que cursará o Seminario de Olinda durante oito anos foi suficiente para começar a vida prática. Assim, logo que chegou a Sobral, ingressou no comércio no qual militou vários anos.
Havendo-se
casado nessa cidade em 1 de janeiro de 1885, com Maria da Graça Pascoa Loreto,
transferiu residência para Camocim onde exerceu o cardo de escrivão da
Coletoria, até o ano de 1892, quando retornou a Sobral.
Provisionou-se
advogado, exerceo-o a profissão até a morte. Como acima dissemos, não tinha
Quariguazil instrução superior, mas, servido por viva inteligência e muita
força de vontade, entregou-se ao estudo da ciência do Direito, tornando-se um
causídico acatado e respeitado, pela competência e caráter retilíneo. Para bem
exercer a profissão, foi pouco a pouco adquirindo os livros necessários,
deixando ao falecer, bem provida a biblioteca, composta de bons livros de
direito, códigos diversos, inclusive de países estrangeiros. Tinha coleção
completa do direito encadernada em marroquim vermelho, a revista do Supremo
Tribunal e inúmeras outras obras.
Era tal seu
desejo de mais aprender e mais aprofundar-se nas letras jurídicas que ,
deparando com o anúncio de um bom livro de direito, não deixava de encomendá-lo.
Após sua morte ainda recebemos, pelo correio, dois volumes. Com seu
desaparecimento êsses livros foram vendidos a várias pessoas, inclusive a um
irmão seu que também se dedicara à advocacia e ao seu grande amigo,
Desembargador Cláudio Ideburque Carneiro Leal Filho, então Juiz de Direito em
Viçosa.
O seu conceito
como advogado, na zona norte do Estado, era grande. Ocupou, por longo período,
o lugar de advogado da Estrada de Ferro de Sobral, na administração João Tomé –
Vicente Sabóia. Muitas das causas que patrocinou tiveram epílogo no antigo
Tribunal da Relação, nesta Capital, onde eram encaminhados e defendidos pelos
seus amigos e procuradores, Doutores Francisco Barbosa de Paula Pessoa e
Virgílio de Morais, conceituados advogados da época. Exerceu durante anos, até
1903, a Promotoria de Justiça da Comarca de Sobral, lugar que desempenhou com
competência e honestidade, em harmonia, aliás, com seu modo de conceder em
todas as funções que lhe eram confiadas. Sem causa precisa, foi transferido de
Promotor de Sobral para igual cargo em Acaraú, no ano referido. A propósito,
seu amigo Dr. Francisco Barbosa de Paula Pessoa endereçou-lhe datado de 23 de
julho de 1903, um cartão que ainda conservo, deste teor: “Foi afinal removido e
nada há para estranhar n’esta ephocha; o que faz rir é o motivo que dão: um
artigo da Ordem sôbre o jôgo dos bichos! Mando-lhe a copia do Acç sôbre a
denúncia do Felix. Decidiu-se por preliminar. O que já é alguma cousa”.
Efetivamente,
meu Pai, vez por outra, escrevia nos jornais de Sobral, especialmente n”A
Ordem”, referida pelo Dr. Paula Pessoa. Não é de estranhar que a causa apontada
no cartão tenha sidoa verdadeira, pois o governadorde então praticava a
contravenção do jôgo do bicho e de certo não gostou do artigo contra a prática
dêsse delito. Meu pai, entretanto, nunca deu importância a essa injusta
transfrencia, sendo, como era natural, demitido depois do abandono do emprego.
Tendo
adoecido dezesseis meses antes da sua morte, compreendeu de acôrdo com a
opinião do médico, que seu mal não tinha cura. Mesmo assim, todavia, nunca
deixou de trabalhar na sua profissão, empreendendo até viagens longas em costas
de animais, transporte então mais comum.
A despeito
de haver trabalhado muito, não deixou a família materialmente amparada. Isto
pode ser levado à conta da sua liberalidade e do pouco rendimento da profissão.
Ademais, a morte surpreendeu-o ainda muito moço.O que ganhava era empregado na
manutenção da família que vivia confortavelmente. Sempre ajudou sua velha mãe e
a alguns irmãos. Mesmo depois de terem constituido família, prestou-lhes
auxílio e os encaminhou na vida, quando chegavam a Sobral vindos de Crateús.
Com o fim
de deixar uma lembraça à esposa, aos filhos e às pessoas íntimas, comprendiou e
imprimiu vários dos seus trabalhos forenses nos quais figurava como advogado,
promotor e curador.
Do seu
matrimônio, acima referido, houve doze filhos. Morreram cinco em tenra idade e
sete sobreviveram. Quando se verificou o óbito de meu Pai, a 18 de dezembro de
1904, na cidade de Sobral, com quarenta e oito anos de idade apenas, o filho mais
velho tinha dezesste anos e o mais moço dois. Atualmente existem os mesmos sete
descendentes que são, em ordem decrescente de idade: Uldarico, Flósculo,
Otacília, Euridice, Nominanda, Marimonio e Arbogasto. Há vinte e três netos e
trinta bisnetos.
Nesta
oportunidade rendo uma homegagem especial à memória de minha Mãe que faleceu
aos cinquenta e oito anos de idade, no dia 10 de fevereiro de 1924, na cidade
de Niteroi, capital do Estado do Rio de Janeiro. Essa heroína que enviuvou
pobre, sem renda certa, com o auxilio de meu avô, seu pai, três anos e meio
após a morte do esposo, transportou-se para Fortaleza, com o fim de melhorar o
nível de instrução de seus filhos, para propiciar-lhes o ingresso na vida
prática. Com ingentes sacrifícios, conseguiu o meritótio objetivo.
Ao falecer,
vinte anos depois de meu pai, fê-lo transquilamente, por ver que não fôra em
vão o seu esforço. Todos estávamos colocados e rendiamos as homenagens a que
fazia jus a vencedora de uma batalha que só as mães sabem ganhar.
Fortaleza,
10 de janeiro de 1956."